domingo, 18 de julho de 2010

Hístória sem final feliz

I
Era uma vez uma formiga vermelha
Que se apaixonou por uma aranha.
Todos os dias ela dizia:
- Aranha quer jantar comigo?
E depois de uma semana de insistência,
a aranha cedeu a persistência.
Na noite combinada,
a formiga foi jantada.
Natália Salomé
*Escrito em 2008.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

José - Carlos Drummond de Andrade

E agora, José?

A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia,
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?

Com a chave na mão,
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro,
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se enconstar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
Você marcha, José!
José, para onde?

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Eu não sei se ele entende
que o amerelo do sol
brilha mais forte nos meus olhos
quando ele está por perto
- e eu só sou feliz quando estou no sol.
Quanto mais intenso for o brilho
mais bolhas flutuam no meu peito.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

E agora José?

Eu já não me importo
se as horas são curtas -eu prolongo-as num beijo;
se os beijos são efêmeros - eu intensifico-os com um pré-olhar;
se as mãos não alcançam - eu encosto meu rosto no seu peito.

E agora eu me importo
Que os beijos sejam só meus;
que as suas mãos estejam no meu cabelo;
que o último pensamento seja meu.

E eu ainda não sei
se as suas horas serão um pouco minhas;
se as suas vontades se saceiam no meu seio;
e se eu sou um pedaço do que você quer.

E agora eu sei
que os diamantes que brilham no céu
são os mesmo que existem aqui dentro:
você sabe: eu não sei mentir.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

De lembranças da Cecília aos poemas "Elizabetanos"

No mistério do sem - fim
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro:
no canteiro, uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o Planeta e o Sem-Fim
a asa de uma borboleta
(- Cecília Meireles)

No Planeta do Sem-Fim
mora uma jardineira
que entre as asas, as pétalas e a violeta
abriga a minha vida inteira.
(- Natália Salomé)

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Gérberas

O momento sublime entre as notas musicais e o tempo. Me perco em devaneios ao som que dissipa, que inspiro, que respiro.

A dor da voz, a água. A dor da voz, o fogo. Soa solene, pia baixinho. Correm suspiros na imensidão do tudo.

Nada que transpira, a vida que sucumbe. São os sonhos que o dia pode nos propor. São os sonhos aos quais a noite pode se opor.

Ressoa, Ô Ô ô o o o o o ....

Entôa o o o o ô ô ô Ô

Penetra ao fundo.

Penetra e é fundo.

A alma saí aos poucos para tocar o sublime momento entre as notas musicais e a sua bela voz. Entre a sua voz, as notas musicais e o nada da minha vida.

Sucumbe: permite-se viver.







*Dia 10/04/2010. Durante um show do Urutau ( http://grupourutau.wordpress.com ).

quinta-feira, 8 de julho de 2010

I am only happy in the sun

When I think about it, it reflects the way I feel about myself.
It is all about little things, It is all about me, my body and my sense of life.

domingo, 4 de julho de 2010

.tempo.

No início o tempo passava com aquela vagareza de tartaruga, tudo era motivo para que ele prolongasse as horas, esticasse as pernas e me deixasse mais aflita. Tudo o que eu queria era que ele pudesse retroceder, um pouco mais rápido, e que na hora combinada, pudesse adormecer e não deixar que elas passassem. Imaginei mil vezes como seria a viagem de volta: andar para trás sequêncialmente, as lágrimas rolando do queixo em direção aos olhos, acordando nos bancos do aeroporto, ouvindo a língua que já era normal, estranhando aquela que me é materna. Imagino o último abraço se desfazendo e a cama desfeita pelas emoções da noite se recompondo: o último vinho, o sol saindo do mar e indo para o céu, o dia novo - de novo. A caixa de bombons, a foto na Mesa. Aquário, praia, café-da-manhã à la Camps Bay com direito a cab rider. O dia nascendo e por isso voltando para a noite anterior. A piscina, as estrelas, a coberta. O último beijo na amiga italiana - aquela com um laço tão forte quanto o de sangue. As lágrimas que não se contiveram voltando para os olhos, um afago de que "it's fine to cry. Just mean that you really care". Abraços, Castle, Black Label Beer. Mais vinho, aulas, a semana inteira. A Mesa. Table Mountain. Os abraços de uma semana. O pôr-do-sol com direito a sentir-me segura. A descida-subida. A semana, as horas. O tempo retrocede para voltar a passar, como eu pedi - va-ga-ro-sa-men-te. Subo as escadas com o coração batendo na boca. Mãos pesadas fecham a porta e eu fecho os olhos em deleite. Mãos, corpos, línguas. Acordar dizendo good morning. Do que você gosta? "Mi piacci", e um bacio para selar a verdade. Corridas na praia, praia, água, frio, corpos quentes. Romance. Os anos que distanciam só fizeram-nos mais próximos. O romance começando, os olhares perdidos, os olhos nos olhos. As línguas: I do care. Mi piacci, Saudades, gut zu wissen. E as horas passam, as montanhas, a praia, os corpos. As horas. O tempo. as estrelas, a coberta, o último adeus, as lágrimas, o carinho, os chocolates e vinhos, o sol morrendo no mar. Sua boca na minha. a última noite, as últimas dores, o abraços que se desfez. Aeroporto. Português? Português...eu sei... confusão, cansaço. Confusão. Vontade de voltar. Os sobrinhos, o choro, o abraço da cunhada. Minha casa. minha casa? Onde? Tudo novo, trabalho, Alemanha. Carnaval. Faculdade, trabalho. Vida, vida. E o tempo se vai. Agora mais de vagar, parece que só para eu não me esquecer que uma hora, mesmo o hoje, vai acabar.

END

I'm writing, to catch the moment,
because when it is happening, I have no choice of not lettingt it go.
I got confused and relaxed,
I got frightened and out of control.

Maybe it is time to let it go:
I can't handle it, if there are more than four hands.
I'm just too proud for that.

I'm writing because I think that it is the moment to let it fly:
no tight hands, no diamonds in the sky.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

desabafo de uma saudade

Hoje eu queria fazer uma ponte sobre o oceano: de braços aberto abraçaria o carinho que duas semanas contruiram.

A amiga de poucas palavras que me entendia como niguém.
Alessandra: aquela que defende o homem, apaixonada.
A amizade que não terá fronteiras.

Como eu gostaria de te abraçar, de conversar e trocar um cigarro.

Castle, Cigarretes e risadas: minha italiana amada.